mardi 8 avril 2008

Aurora:

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
Seja uma velha canção nos teus ouvidos.
Das horas que passei à sombra dos teus gestos,
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
Dos teus passos eternamente fugindo.
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
Nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
Um transbordamento de carícias.

E só te pede que te repouses quieta,
Muito quieta...
E deixes que as mãos cálidas da noite
Encontrem, sem fatalidade

O olhar estático da aurora.

[Vinícius de Moraes]

1 commentaire:

M_ a dit…

e esse poema...
diz tudo...
e mais...