mardi 18 décembre 2007

Jogo de Damas*

[*Enviado à redação do jornal cultural "Conhece-te a ti mesmo"; data venia. O autor aqui fora excluído do mesmo jornal em questão após o envio]

A arte de escrever ruma, por si mesma, ao cume: o desânimo de expressar.
Toda angústia é um desejo sem eco, e belas frases tornam essa angústia algo aparentemente belo. Mas não há nada mais belo que o sublime silêncio – ele é o ápice, a conseqüência cabalmente impreterível. O silêncio que é conseqüência e causa do anonimato. Que por si é conseqüência da falta de aptidão ao dinamismo, por n fatores que prescindem da vontade. E que desembocam em vontade de mais silêncio, mais quietude, e em ver que todo esforço é efêmero perante essa balbúrdia gosmenta que está virando o mundo.
Ótimo, ótimas justificativas racionalizadas. Vou tentar então me explicar na língua de vocês: dois meses de distância desse jornal fizeram eu ver, perante os olhos que me esqueceram, caros colunistas e leitores, que todos vós, cada um, são lembrados apenas por fazerem barulho. Logo vocês morram, e esqueçam que serão lembrados. E saibam que se vós sois ajudados, é somente por serem inoportunos, por constituírem-se num problema, num mosquito à noite. E como a lei não permite homicídios nem grosserias, os bons-samaritanos, coagidamente, lhes fornecem o sangue. E que eu não consigo me calar perante tamanhos desbarates, tamanhas incongruências! Mas eu preciso. Ei, alguém lembra do Alguém? Mas que Alguém? Ah sim, o colunista que está fazendo falta pra encher o salame.
Perdão, caros leitores... mas se sintam aliviados, pois me pautaram de não falar contra vocês, afinal, o cliente tem sempre razão. Alles blau. Mas... só que me incomoda é exatamente a idéia de "contra". Nunca vi nenhum ser vivo despertar sem sacolejadas. Perdão, oh, perdoe-me... padre, eu pequei. Hoje é o dia do meu aniversário e eu estou ficando rabugento. Estou mais velho e me dão os parabéns pelo tempo ter passado independente de mim, contudo os parabéns são pra mim... vá entender os humanos. E ninguém sequer me deu um maço de cigarros. Parabéns são de graça. Nem uma ligação. Parabéns são de graça. E uma simples surpresa cheia de criatividade teve mais energia que todos os parabéns moribundos. Mas não é esse o ponto: o ponto é essa dama de preto, que mascara sua empáfia, tornando tudo amarelo como seu sorriso. Eu vejo ela em 95% dos "parabéns" dos homens.
A problemática aqui posta em voga (óbvio, sempre por mim), não é, todavia, furiosa como as do passado. Mas esse período que acabo de escrever é irrelevante, posto que como dito, quem é Alguém? Eu tampouco espero reconhecimento e confetes de vocês, nunca gostei de carnaval. Mas o que me irritou sempre, senhoras e senhores, é essa moça bonita de sorriso amarelo, chamada Hipocrisia.
É a Hipocrisia que invade o natal e as folhas dos jornais culturais. É a Hipocrisia que me dá "bom dia" na voz de quem me detesta. É a Hipocrisia que faz com que MPR seja bajulado. É a Hipocrisia que faz MPR ligar e escrever, maquiavelicamente, pra escritores e jornais de diversos cantos do país. É essa moça, das vestes pretas e da pele fétida de perfumes baratos, que todos amam. Ela é a deusa do inconsciente, tomando páreo duro com o Deus-sem-nome. Não os julgo, caros leitores e colunistas: ela toma conta dos meus lábios muitas vezes, é um estigma social. Ela é o pólo magnético para onde todos rumam, ela é a didática perfeita imposta nas crianças. A maçã pro professor. A dor de cabeça das amantes, a Paidéia dos gregos, o soro anti-ofídico de qualquer veneno que a verdade traga. É a nossa meretriz, a nossa anfitriã, o eixo das relações familiares, os sorrisos da TV. Ela seduz; ela entorpece.
Pois eu lhes digo: prefiro a minha suave e repudiada dama de semblante calmo, chamada Tristeza, do que qualquer benefício que a Hipocrisia me traga.
E aqui... perdoem-me, mas sou forçado a ser também, de certa forma, hipócrita com vocês todos. E vocês comigo. Espero que me entendam... a etiqueta, a política da boa vizinhança, sabem como é... vamos brindar! À essa suave dama perfumada, sedutora, o meio pra qualquer fim. Até pro nosso.
Um brinde à Hipocrisia!

2 commentaires:

Anonyme a dit…

[Sorriso hipocrita]Oh! Mais que belo texto![/Fim do Sorriso Hipócrita]
Escreves muito bem meu caro. Continue progredindo. Sei que fará sucesso.[Novo sorriso Hipócrita]

Mais uma vez vc tá certo... dá vontade de vomitar... Em todo caso um brinde a hipocrisia...

Anonyme a dit…

Quem merece um mega brinde é você! Seu texto é sublime!

Beijos Agnósticos...